quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As Balas

Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas dão o sangue derramado

Dá a chuva o Inverno criador
As sementes da sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas dão o sangue derramado

Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá amor renascido
As balas dão o sangue derramado

Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento ao trigo amassado
No esbraseado forno dá o pão
As balas dão o sangue derramado

Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas dão o sangue derramado

Do meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas dão o sangue derramado

Dá a certeza o querer e o concluir
O que tanto nos nega o ódio armado
Que a vida construir é destruir
Balas que o sangue derramado

Que as balas só dão sangue derramado
Só roubo e fome e sangue derramado
Só ruína e peste e sangue derramado
Só crime e morte e sangue derramado.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

quinta-feira, 18 de novembro de 2010


Eu não quis mais ser assim, doida, inconseqüente
Não quis mais usar meu corpo para me submeter a experiências mal sucedidas
Eu já fui estúpida ao ponto de não saber o que esperar do amanhã
Agora eu espero a cura
Eu espero estar menos frágil e um pouco menos influenciável
Mas isso é uma coisa tão minha, como uma espécie de filosofia, onde eu sempre me encaixei, mas inevitavelmente me desprendi
Isso é tão pequeno diante da eternidade das sensações que ainda serei tentada
E é tão importante quanto o fato de eu ter descoberto quem está realmente no comando
Esses meus pensamentos que me transportam para certo espiritualismo, deixam-me pertinho de alguém ou algo que me ouve, mesmo gritando baixinho... Sem ânimo
Eu esperava o princípio entrar em ação, esperava a essência d’alma replicar meus interesses
Tudo foi em vão, percebi o quanto isso seria egoísmo
Melhor seria estar inconsciente para não ter que abrir os olhos na densa fumaça de incertezas
Hoje sinto meus dias um tanto menos doídos, um bocado mais aprimorados, mesmo sabendo que amanhã terei milhares de surpresas
E destas, algumas se partirão na eternidade de saber viver, mas outras permanecerão intactas, como se eu nem as tivesse presenciado
Por vezes eu escrevo, por vezes eu ouço, outras imagino, mas a todo o instante eu sinto, eu vivo, eu sou

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Delírios...

Raios de sol.. raios
Pingos de chuva... água
Longe de tudo... longe
Estão longas as noites... compridas
Raios de trovão... trovões
Perto do que não tenho... próxima
Lado a lado com a razão... razão???
Ilusões de presente... apenas ilusões
Sem pressa de sair... chegar
Tomando decisões... acertar
Fugindo do erro... errar
Brasa de cigarro... brasa
Meu coração solto... solto...
Amor e ódio... confusão
Caminhando no escuro... negro
De frente com o mar... ondas
Ventos frios... calmaria
Trazendo a paz... ventos
O sol brilha no alto... bem alto
Vou dormir com a lua... sonhar
Visitar novos mundos... voar

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Por Onde Andei



Estive procurando novos horizontes.
Atrás de outros cenários.
Estive em busca daquele famoso monge mas meu troco era muito pouco e não cheguei onde quis.
Procurei nuvens onde a fumaça era uma coberta de alegrias.
Me vi em lugares diferentes tendo atitudes estranhas.
Tentei me reconhecer mas nem o espelho foi capaz de refletir a realidade.
Escutei os inquietantes barulhos que o forte vento persistia em causar.
Me assustei.
Farejei o aroma da milagrosa ceita.
E me deitei sobre a grama virgem e fresca.
Pude observar o anil e o celeste, os azuis das águas e dos céus.
Os amarelos e laranjas, aquelas chamas do entardecer e dos girassóis.
Quis qualquer coisa pensando no nada que tive.
Achei tudo.
Até fiz o possível mas desisti quando vi que o impossível é uma escolha muito radical.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


De todas as tantas peripécias da criatividade divina, talvez delas, tu sejas o concreto.
Não por idealismo, mas claro, também, por manifesto extra material.
Sem conceitos a teu respeito... mas como não crer no que é tão límpido; teu olhar que tudo lê e tudo compreende.
Apenas sei que é bom demais por transparecer-te.
E eu tento ser lúcida pacífica para poder discernir o fantástico da massa.
Quem poderia esconder este teu tímido ser adorável?
Mostras teus olhos negros e adocicados ao fechá-los, porque és verdadeiro.
Como teu sorriso.
Posso não saber quem tu és, e tão pouco pretendo descobrir.
Prefiro conhecer-te.
Aos poucos... de leve... com a mesma calmaria que teus olhos me invadem.
Livros, sons, luz penumbrando a sensação abençoada do extenso efeito milagroso.
Oh, dia mais curto...
Curto para tantos projetos em rascunho.
Verdes corriqueiros como praga se alastra.
Não parece forte... é comum.
Tolice queimar ervas; sabedoria cultivá-las.
Cultivam e queimam os tolos, não por diferente, os sabidos também.
Obra de Deus colhida mais obra de Deus carburada...

Não sei se é meu coração, ou se minha intuição. Pode ser só falta de atenção.
Sem rimas, eu não vou precisar muito delas quando daqui eu partir. Mas um pouco de emoção eu preciso para ser um pouco mais distinta.
Quais são as cores das ideias? O que se enxerga depois do nível do mar da distração?
Vou me contendo um pouquinho a cada dia, me desvirtuando do que eu realmente penso sobre  o fato de existir, e estar aqui, perto de vocês.
Eu chegaria até o limite pra descobrir quem deveria ser. Meus limites são muitos, mudam-se a todo o momento em que paro pra pensar.
Refletir.
Precisamos refletir. Todos juntos pra que as ideias sejam prósperas.
Não adiantaria somente eu, em meu singular verbo sentir, dizer do que precisamos para ser completos.
Um dia eu poderei pensar que sei. Mas nesse dia eu descobrirei que ainda não sei nada.
Por ser uma aprendiz, que erra fatalmente depois de perceber que erros são apenas paginas em branco e que ainda há espaço para se preencher.

Ao nosso eterno amigo Fábio...

Dores que se passam.
Dores que de nada servem.
Dores que não passam e me servem de consolo.
Um aviso do corpo à alma, um desajuste físico que passa a ser vital.
Um instante e minhas pálpebras estarão cerradas, e sei que essa dor me faz estar mais próximo.
Num leve soprar os ventos de longe me carregarão. Eu estarei melhor daqui pra frente, longe do que sempre me doeu e trouxe caos.
Não deixarei de sentir, nem de servir, porém, agora estarei mais tranqüilo.
Daqui pra frente tudo será uma escola onde meus ensinamentos estão no coração. E as lições partirão da experiência.
Hoje estou com essa dor. Ela já me acompanhou por toda vida, desde que me lembro onde começou.
Sei que amanhã ela partirá, como eu seguindo o rumo do rio ao encontro do mar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010


Eu sorriria pra você todos os dias.
Como se todos os dias fossem os últimos para dizer te quero.
Eu te daria o segredo da cura um dia.
Se eu soubesse onde eu o escondi.
Eu te traria pra perto do peito, mais um dia.
Mas eu não posso contar quantos ainda nos restam.
Eu poderia te oferecer os beijos que não recebi neste dia interminável.
Mas  meus sonhos são maiores que um sorriso.
São mais que um remédio.
Melhores que um aconchegante colo.
E mais açucarados que estes beijos.
Meus sonhos me levam pra onde eu quero, e podem te levar junto, se acaso precise.
O meu sonho me faz melhor, me faz aproximar de seu chamado.
Deixe-me sorrir, eu calar, eu ninar...
Deixe-me beijar.
E deixe-me pra sempre, eternamente sonhar.