quarta-feira, 4 de julho de 2012



Só por hoje eu  queria não estar
Só por hoje sumir pra depois voltar dizendo olá com um sorriso verdadeiro
Por hoje não queria ter o telefone nas mãos , me esperando chamar
Por hoje eu não precisava existir
E agora eu queria chorar, mas chorar já não basta quando se é adulto
Então já repeti muito esse hábito pra ser condizente
Por hoje eu poderia deixar de amar
Eu poderia dormir e não mais acordar
Poderia recordar do que não vivi, e fazer meu passado ser mais digno
Por hoje eu poderia deixar de dizer que amo
Mas sempre carrego a maldita alma de poeta em mim...

sábado, 30 de junho de 2012



A vida agora lhe sorriu em um sorriso lindo de dentes parelhos, em uma boca desenhada.
A pele morena, dourada, distinta da sua, espalhava a brisa de um certo desejo no ar.
O ar que ela respirava era agora colorido e leve. Era prazeroso e satisfatório.
Seus dias de recluso lhes deixaram, eles se foram para um lugar distante, foram por espontânea vontade sem lhe ouvir chamar.
Ela também nem gritara, não quis mais deles ser; dias frios de silêncio, de frieza.
Agora sabia onde encontrar os olhos daquela criança menina. Eles moravam nela.
Agora a menina adormecia dentro dela. Ela se sobressaía no seu corpo, enroscava-se no seu cabelo e entrelaçava as pernas nas pernas dela.
Seus sonhos, os mais puros, habitavam hoje seu mundo particular.
E nelas era perceptível o amanhecer chegando. Algo que não desejavam tão cedo.
Duas faces numa mesma moeda.
Dois corações num mesmo ritmo.
As emoções gêmeas de gosto curioso.
O amor, a paixão, o calor, o tesão.
Sempre... sempre a vontade de ter, de ser, de estar.
Cada dia mais, cada hora que se vai lhes traz uma angústia de não poder sentir o cheiro, não beijar os lábios.
Dias vividos num amor dividido.



quarta-feira, 6 de junho de 2012


"...Então os lábios abriram-se e deles brotaram inúmeras palavras; destas, algumas feriram, algumas penetraram feito lâmina cega. Corroeram os tímpanos abusando do meu silêncio.
Eu sabia que isso era o fruto dos anceios, dos inquietantes reflexos do pretérito.
Sabia que meus ouvidos suportariam mais do que insignificantes cenas de um passado remoto.
Me desculparia por escutar, mas já nem ouvia mais o que me feria. 
Conseguia ouvir os tons mais agradáveis que surgiam daquela boca, e eles me confortavam, me aliviavam quando se sobrepunham as futilezas dela ditas.
Tiros, balas que voavam de trás da língua.
Uma boca tão bela e perfeita que produzia mel e féu. Ambos caminhavam junto sem média entre eles. Juntos, paralelos, forçando-me a aceitá-los para assim poder tê-la; para assim poder sê-la..."

quarta-feira, 9 de maio de 2012




 

Às vezes uso a sorte como desculpa do acaso.

Ou simplesmente ignoro o destino.

Glória ao poder sobrenatural que vem sei lá de onde!

Já consigo reconhecer e posso compreender.

E lá vem o futuro inesperado que turbilha a vida já pacata e morna.

Que a normalidade agora banalize-se a diante um salto que fará voar ou despencar.

De repente ainda não juntamos tudo o que a mala suporta; e o trem parte logo...

Rápido, depressa.

Rápido como uma flecha que deixa rastros de brisa.

Sorte até pode ser ter certos acasos como tantos que me levam para mais perto da vitória.

Que venha a força bendita da luta que trama batalhas!

Que venha seja de qual for seu lugar!


sexta-feira, 20 de abril de 2012

 À Lu...


Bendita a hora em que mergulhei nesse lago profundo.
Eu não sabia nadar e  pensei que me afogaria em poucos segundos.
Percebi, então, que não seria a minha falta de experiência em águas abundantes que me mataria.
Aprendi a boiar e respirar.
Mantendo a calma, pude mover os braços e os pés, simultaneamente.
Assim criei a coragem de nadar.
Eu precisei respirar a umidade para me sentir seca.
As águas do lago teu que me ensinaram a ser eu mesma.
Elas me impulsionam a fugir do medo; a largar os botes que me salvariam em outrora.
Abandonei o barco que furou e tranquilamente aguardei a submersão.
Sem temor, sem desespero, eu afundei sorrindo; e num impulso, quase que por instinto, fui a diante.
Movendo o corpo para frente te vi, sob lua, nua e rígida a me esperar.
Flutuei nos olhos teus e voltei a respirar nos teus braços.
Esqueci da apnéia quando senti teu coração bater mais forte que a coragem que criei de atravessar o lago só para te ver.

quinta-feira, 15 de março de 2012



Isso é reflexo de suas escolhas
Nunca se vive algo sem ter desejado
O ruim também é desejado, inconscientemente
Foi você que optou
Sabia dos riscos que correria, e optou
Portanto, viva isso sem reclames
Use isso a seu favor e reflita
Não se torture tentando se enganar
As ilusões só servem pra nos frustrar
Você escolheu o caminho
Agora ande, procure-o e espere pela próxima bifurcação
Ela surgirá
E você decidirá mais uma vez
Seus desejos são somente seus
Ninguém precisa compreendê-los ou dividi-los
Sua percepção da vida é inteiramente pessoal
Aceite isso
Viva sozinho, por você
Não procure abraçar o mundo sem antes se ver despido das fantasias que você mesmo procurou vestir
Não decida nada agora
Deixe os ponteiros percorrerem seu destino
E nunca, nunca reclame da dor
Lembre-se, foi você quem a procurou
Por motivos que hoje, talvez, você não compreenda, mas que amanhã farão todo sentido

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


Te procurei neste instante
Onde minhas vagas sensações de desamparo se destacam
Não te encontrei
Nem aqui dentro, nem ali fora, onde costumas dormir a noite clara
Eu estava soberba diante de meu reino
E você parada, fingindo me emoldurar em quadro de mármore
Te procurei nas vielas
De onde saiam as encostas de minhas costelas
Não estava ali
Não estava nem no fundo escuro do meu suspiro
Te deixei então
Onde deixaria tudo o que me transmite indiferença
Na fresta da janela quebrada pelo vento cortante dos velhos invernos
No horizonte firme da montanha que não escalei
Te deixei lá, intacta
Como o vidro frágil que trincara ao brinde mais próspero
Te deixei lá para voltar a te procurar