sábado, 30 de junho de 2012



A vida agora lhe sorriu em um sorriso lindo de dentes parelhos, em uma boca desenhada.
A pele morena, dourada, distinta da sua, espalhava a brisa de um certo desejo no ar.
O ar que ela respirava era agora colorido e leve. Era prazeroso e satisfatório.
Seus dias de recluso lhes deixaram, eles se foram para um lugar distante, foram por espontânea vontade sem lhe ouvir chamar.
Ela também nem gritara, não quis mais deles ser; dias frios de silêncio, de frieza.
Agora sabia onde encontrar os olhos daquela criança menina. Eles moravam nela.
Agora a menina adormecia dentro dela. Ela se sobressaía no seu corpo, enroscava-se no seu cabelo e entrelaçava as pernas nas pernas dela.
Seus sonhos, os mais puros, habitavam hoje seu mundo particular.
E nelas era perceptível o amanhecer chegando. Algo que não desejavam tão cedo.
Duas faces numa mesma moeda.
Dois corações num mesmo ritmo.
As emoções gêmeas de gosto curioso.
O amor, a paixão, o calor, o tesão.
Sempre... sempre a vontade de ter, de ser, de estar.
Cada dia mais, cada hora que se vai lhes traz uma angústia de não poder sentir o cheiro, não beijar os lábios.
Dias vividos num amor dividido.



quarta-feira, 6 de junho de 2012


"...Então os lábios abriram-se e deles brotaram inúmeras palavras; destas, algumas feriram, algumas penetraram feito lâmina cega. Corroeram os tímpanos abusando do meu silêncio.
Eu sabia que isso era o fruto dos anceios, dos inquietantes reflexos do pretérito.
Sabia que meus ouvidos suportariam mais do que insignificantes cenas de um passado remoto.
Me desculparia por escutar, mas já nem ouvia mais o que me feria. 
Conseguia ouvir os tons mais agradáveis que surgiam daquela boca, e eles me confortavam, me aliviavam quando se sobrepunham as futilezas dela ditas.
Tiros, balas que voavam de trás da língua.
Uma boca tão bela e perfeita que produzia mel e féu. Ambos caminhavam junto sem média entre eles. Juntos, paralelos, forçando-me a aceitá-los para assim poder tê-la; para assim poder sê-la..."